terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Seja um bom ouvinte mas não um depósito de queixas.



Gente, o que me leva a escrever este texto  é para evitar a vocês o que já aconteceu comigo e que chegou até a me causar um certo desequilíbrio e que via de conseqüencia se refletiu na minha vida.
A confusão fui eu mesma que fiz porque penso que quase tudo o que nos acontece, é com a nossa permissão e nós que damos oportunidade para acontecer.
Seja por educação, seja por solidariedade, seja enfim por bons motivos, sempre fui uma boa ouvinte para as pessoas. Sim, especialmente em razão da minha profissão anterior (advogada), exercia o hábito de ouvir as pessoas, seus problemas, suas razões, seus anseios, etc. É claro que um bom profissional , seja ele médico, psiquiatra, terapeuta ou outra profissão que envolva o contato com clientes, deve limitar o envolvimento com as pessoas , pois do contrário, o profissionalismo acaba prejudicado.
Entretanto, muitas vezes , inconscientemente, a gente acaba excedendo esse limite que deve ser respeitado e se torna um poço ou um depósito de queixas e como isso nos afeta! Como isso nos prejudica! Meu Deus!
Nas profissões em que se lida com o  público, normalmente se conhece todos os tipos de personalidade. Mas existe um tipo comum, que é aquele que faz do profissional sua tábua de salvação e bem assim, caso as coisas não aconteçam como espera, torna-o responsável por suas dores e frustrações.
Mas o que eu quero dizer é que não só a nível profissional mas na vida pessoal da gente, é muito comum pessoas nos procurarem para desabafar, para um conselho, para uma confidência, uma orientação e quanto a isso é o meu alerta: cuidado!
Gente, sem me dar conta, fui permitindo que as pessoas começassem a me contar seus problemas e quando vi, me ligavam dia e noite, me procuravam nas redes sociais, por e-mails, em casa e isso sem qualquer respeito a horário, feriados, finais de semana, ou seja,   totalmente inconvenientes.
Eu sou alguém que se afeiçoa às pessoas com extrema facilidade, independentemente da posição em que ocupam na minha vida e no meu ambiente. E ouvi-las e tentar de alguma forma, ajuda-las, seja simplesmente ouvindo, ou me manifestando acerca de algo que possa ajuda-las, sempre me fez bem. Porém, notei que algumas pessoas não conseguem discernir sobre o fato de que aquele que se dispõe a ouvi-las também tem sua vida própria, também tem suas ocupações, seus problemas, suas necessidades e que nem sempre podem estar à sua total e inteira disposição, assim como, efetivamente tornarem-se seu divã ou uma caixa onde despejam suas ansiedades, preocupações, queixas e toda uma carga emocional negativa que nada de bom acrescenta a você mas sim acaba por prejudicar, aborrecer e estressar.
A culpa, porém, não é daquele que faz de você esse "depósito" mas sim de você mesmo que admite e torna isso oportuno.
Na postagem que eu fiz sobre o limite da virtude, me referi ao limite da gratidão. Aqui, equiparadamente, me refiro ao limite da solidariedade.
Ouvir alguém é um ato de solidariedade, pelo menos é o que eu considero. E bem assim, é também uma virtude. Mas como disse e repito, toda virtude quando excede os limites , deixa de sê-lo em razão de seu próprio excesso.
Disse Willian Shakespeare: "Até mesmo a bondade, se em demasia, morre do próprio excesso."
O que se deve entender, efetivamente, é que se não se impuser um limite, há de se ocorrer o excesso e tudo que excede, desequilibra e via de conseqüencia torna-se prejudicial.
Neste caso, se torna prejudicial para ambas as partes. Para você que intencionou apenas ouvir num ato de solidariedade, acaba se tornando um depósito de problemas alheios que psicológicamente acabam interferindo mesmo que de forma inconsciente no seu equilíbrio emocional, daí se refletindo em todos os aspectos de sua vida e também para quem excede o limite com você porque passa a simplesmente tornar-se dependente dessa 'válvula de escape', tornando-se incapaz de lidar sozinho com seus conflitos, sejam estes quais forem.
Portanto, o meu objetivo com este texto é apenas alerta-los de que ser um bom ouvinte é excelente, faz bem para a gente e para o outro mas desde que se mantenha o limite pois a partir do momento em que houver o excesso de ambas as partes, isso ao invés de ser algo salutar, acaba se tornando um problema, com consequências desagradáveis e desconfortáveis.
Ouça sim, sempre que possível mas desde que você possa, desde que isso não passe a se tornar uma inconveniência em seu momento pessoal.
Você não precisa se fechar, não precisa faltar com educação, não precisa ser rude. A única coisa que você precisa é ser sincero, verdadeiro e com todo respeito e carinho, mostrar àquele que começa a se exceder que você não está no seu momento de ouvi-lo e que isso não quer dizer que não deseje que sua situação , seja qual for, se resolva. Pelo contrário, o silêncio é uma prece. E na maioria dos casos, a solução chega sempre no silêncio.
Gente, a solidariedade é uma virtude e deriva da bondade. Mas por sua vez, a bondade não é dever, não é obrigação. A bondade para ser verdadeira tem que vir do coração, do seu estado de espírito, senão essa bondade não é sincera, não é verdadeira. Ninguém é bom verdadeiramente, se é por obrigação. Então, se você ouve alguém porque realmente quer ouvir, se está no seu momento propício para ouvir, se isso não vai de alguma forma te prejudicar em algo, então ouça. Mas preste atenção se isso não se torna um vício ou uma comodidade para o outro e um inconveniente para você. Se isso estiver acontecendo, pare.
Gostar de alguém pressupõe um fator importante e fundamental, ou seja, primeiro a gente tem que gostar da gente mesmo, se respeitar. Quem não se respeita, quem não cuida de si próprio, como será capaz de respeitar e cuidar do outro? Questão de lógica, né ?
Então, finalizando, seja um bom ouvinte sempre que possível mas atente para os limites.

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